terça-feira, 6 de dezembro de 2011

Mentira, sempre a mesma mentira. Porra!


A mentira continua e de cada vez que vejo as notícias sinto, parafraseando o Sérgio Godinho, "uma raiva a crescer-me nos dentes". Quando os últimos desenvolvimentos pareciam indicar um possível rumo à razoabilidade, eis que Merkel e Mini Me decidem reforçar a sua narrativa de moralismo económico, segundo a qual os pecadores/gastadores devem penitenciar-se dos seus pecados pela austeridade virtuosa, e logo os líderes (?) europeus começam a ladrar a conversa do dono. Até o Van Rompuy já veio propor que, para além da efectiva perda de soberania e suspensão da democracia nos países incumpridores ( esses malandros) , os excutores testamentários, vulgo governos, dos ditos não possam votar nas decisões das instituições comunitárias. Pergunto-me, quantas mais humilhações teremos que sofrer até que o nosso primeiro-ministro faça um ténue gesto de repúdio? A ultima vez que o nosso país sofreu uma humilhação semelhante tivemos uma  revolução e eu só lamento não haver um par que homens valentes que queiram que o seu país seja algo de decente!

Mas o que verdadeiramente me indigna é a mentira repetida ad nausem que nos estão a pregar. Dizem-nos Merkel  e Mini Me que estamos a pagar por termos sido uns estroinas e que temos que seguir o caminho alemão: Conter salários, ganhar competitividade e passar a ter excedentes comerciais. Pois sabem os ditos senhores que isto é uma impossibilidade aritmética! Não é possível todos passarem a ter excedentes simultâneamente. Numa zona de comércio os défices de uns não são mais do que a contra-parte dos excedentes de outros e o que se está passando é mesmo isso: um conjunto de défices externos nos países periféricos que surgem como contra-parte dos excedentes dos países do centro e que perante uma arquitectura deficiente da moeda única se tornam num alvo apetecível do clamor dos mercados, senão atentemos no seguinte gráfico retirado do Krugman:




E como foi este excedente atingido pela Alemanha? À custa do salário dos trabalhadores alemães! Atentemos no relatório da distribuição de riqueza hoje divulgado pela OCDE:




Um aumento tremendo na diferença entre o rendimento dos mais ricos e o rendimento dos mais pobres.

É isto o que nos espera. É este o plano. É a isto que estamos a assistir com medidas como a anunciada ontem pelo ministro da saúde: uma brutal transferência de rendimentos dos mais pobres (os tais 99%) para os mais ricos! E Portugal que, nos últimos anos, tinha conseguido reduzir um pouco a sua crónica e elevada desigualdade  de rendimentos, fruto de políticas sociais que não só resultam, como são necessárias (e sim, estou aqui a incluir o rendimento mínimo!), vai retroceder bastante com este empobrecimento desnecessário.

O que mais me perturba no meio de tudo isto é os senhores que mandam nos quererem fazer passar por parvos. Perturba-me tanto que cada vez mais sinto a vontade de desistir e fugir desta Europa demente, porque a minha filha tem o direito a crescer num sítio em que esperança não seja uma palavra vã.

JA de VCG e S

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