terça-feira, 30 de agosto de 2011

Filhas da putice



Há muita matéria na qual discordo de quem nos governa, mas cuja posição oposta à minha respeito como uma, fundamental, diría, divergência de opiniões resultantes de maneiras diferentes de ver e entender o mundo. Como tal aceito como discutível, por exemplo, a necessidade ou não de existência de um "Estado Social". O que já me causa muita dificuldade em aceitar, para ser suave nos termos, é o completo travestismo do conceito, passando-se de "Estado Social" a "Estado assistêncialista". Uma espécie de caridade de Estado, na qual os pobrezinhos, coitadinhos, fazem fila para agradecer, humildemente, como convém, a dádiva de umas migalhinhas que nos sobraram dos despojos da estroina colectiva. É a ponta mais visível de um "racismo social" odioso que, se não for travado a tempo, muito dano pode causar. Como no caso do que se quer fazer no SNS e do que se anunciou agora no caso dos transportes públicos, onde quem quiser beneficiar das migalhinhas que restam, além de ser pobre, tem que passar atestado de pobreza. Não falo dos princípios de equidade que não tem nada que ver com a diferenciação de tarifas, mas sim com o sistema fiscal; não falo da eficiência económica da provisão universal destes dois serviços, por via das externalidades que geram, nem sequer da estupidez burocrática dos custos administrativos que geram. Limito-me a falar da filha da putice de quem estigmatiza quem já é estigmatizado, de quem obriga quem é pobre a revelar a sua condição a prestadores de serviços, a vizinhos na bicha p'ro passe na tabacaria do bairro, emfim, na humilhação de quem já, muitas vezes, come o pão que o diabo amassou.




No filme Inglourious Basterds o tenente Aldo Raine marcava os Nazis que deixava escapar para darem aviso aos seus camaradas das actividades dos "Basterds" com uma suástica na testa, por forma a mais tarde sofrerem o castigo devido. O ministro da mota quiçá devesse adoptar um procedimento semelhante com os pobres deste país. Poupava-se muito custozinho administrativo ao Estado e poupava-se a maçada ao cidadão de ter que andar com a nota de liquidação do IRS no bolso. Assim como Simplex Pobertanex.







JA de VCG e S.

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